19.10.06

Motivios

Está no blog do Alceu Nader. É para que possamos ler a mídia com mais crítica. http://blog.contrapauta.com.br/
PORTARIA DO MEC QUE MORALIZA COMPRA DE LIVRO DIDÁTICO CORTOU R$ 40 MILHÕES DO FATURAMENTO DA ABRIL

“As empresas não têm ideologia, têm negócios”

17 de Outubro de 2006 @ 10:45 por Alceu Nader

A definição acima, pinçada dos estudos sobre cultura de massa dos filósofos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), pode estar na origem da ira da Editora Abril e sua principal ponta-de-lança, a revista Veja, contra o PT e o governo Lula.

A artilharia da revista para a dinamitação de um então hipotético segundo mandato de Lula teve início na edição de 25 de maio do ano passado, com a capa do rato trajando terno, gravata vermelha e uma cigarrilha entre os dedos.

Nesse período, aponta reportagem do Valor Econômico de hoje, na reportagem “Editoras menores vendem mais ao governo federal”, já se preparava no Ministério da Educação a portaria 2.963, que viria a ser publicada dois meses depois no Diário Oficial.

Assinada pelo ministro Fernando Haddad, a portaria 2.963, “dispõe sobre as normas de conduta para o processo de execução dos Programas do Livro”, proibe a distribuição de brindes e vantagens, veta a publicidade e a produção de eventos promocionais nas escolas, entre outros recursos de marketing que pudessem induzir os professores à escolha dos livros que iriam usar nas salas de aula.

“As regras para a divugação de livros ditáticos nas escolas públicas mudaram. E o jogo virou a favor das editoras de menor porte”, diz o Valor.

O governo brasileiro é o maior comprador individual do mundo de livros didáticos. No ano que vem, por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) vai comprar 102 milhões de exemplares para distribuição gratuita nas escolas públicas.

A mudança nas regras de divulgação não foi nada boa para a Abril, pois colocou na ilegalidade suas práticas de marketing e divugação junto aos professores. Ao Valor, o diretor-geral da Abril-Educação, João Arinos dos Santos, diz: “Reconhecemos que pode ter havido excessos na divulgação, mas acreditamos que a forma de coibir isso não é proibir a divulgação”.

O descontentamento de Santos mora na queda do faturamento da Abril. Em 2004, as duas editoras de livros didáticos da Abril – Ática e Scipione – ocupavam o primeiro e o quarto lugar entre as maiores fornecedoras, totalizando contratos de R$ 128,7 milhões. Com o fim dos “excessos na divulgação”, perderam 30% do mercado – ambas vão faturar R$ 88,4 milhões – ou R$ 40 milhões a menos do que em 2004. Em 2004, o PNLD gastou R$ 412,4 milhões; no ano que vem, vai desembolsar R$ 456,7 milhões.

Recomenda-se a leitura na íntegra.
Valor Econômico - Editoras menores vendem mais ao governo federal
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - Íntegra da portaria no site do FNDE

25.9.06

Livro


O professor e pesquisador Venício A. de Lima lançou seu novo livro "Mídia: crise política e poder no Brasil " (Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo, 2006). O livro traz uma visão geral da mídia brasileira, suas deformações históricas, sua concentração, seu papel no processo político e a crise que está levando à sua internacionalização. Aborda a relação entre mídia e política, onde analisa a cobertura da crise política, recheado de casos gerais de omissão, saliências e distorções e exemplos de coberturas específicas de veículos como Veja, Época, Jornal Nacional, O Globo e Folha de S.Paulo. O livro trata ainda da concentração da mídia brasileira e discute provocativamente a velha questão sobre qual dos dois veículos é mais importante para a formação da opinião pública no Brasil: o jornal ou a TV. Pela contundência dos debates do professor nessa área, é chover no molhado dizer que a publicação é leitura obrigatória para pesquisadores e estudantes que trabalham com o tema comunicação-política.

Pesquisas

Há uma certa histeria na mídia em tentar relativizar alguns números das pesquisas eleitorais. Por exemplo: tem sempre um porém nas notícias de todas as pesquisas que apontam vitória de Lula ainda no primeiro turno. O porém é dizer ou lembrar que o candidato Alckmin não está morto, que ainda tem chance de vencer. Nesse aspecto, ao lado da chamada principal, vem sempre o “mas...”. É preciso dizer que a vantagem de Lula está cristalizada e as pequenas variações que ocorreram nos levantamentos ficaram dentro das chamadas margens de erro. Portanto...Também é desnecessário lembrar, e o bom jornalismo deveria saber disso, que enquanto não houver votação, haverá sempre chance de o candidato A ou B vencer, seja ele quem for. Não é preciso nenhuma pesquisa para constatar isso.

12.9.06

Buzão do Bial

Está, no mínimo, hilário assistir ao JN e ver aquele buzão desgovernado atravessar o Brasil. Mais engraçado ainda é ver os apresentadores (recuso-me a falar jornalistas) de costas para um mar de gente, que nem estrela pop, para dar as chamadas do jornal. A que ponto o pseudojornalismo pode chegar! E a última do buzão é de danar. O Bial na buraqueira da BR-316, em pleno momento eleitoral, dizendo, com cara de cansado, que levou nem sei quantas horas para viajar apenas 40 quilômetros. Algumas dúvidas: por que o Bial não falou em sua "crônica" que a estrada vive essa realidade há décadas (cadê a contextualização)? Por que, no outro dia, o mesmo jornal mostrou o candidato da oposição andando na garupa de moto, pela estrada esburacada? Por que só agora, com o buzão, o jornal foi descobrir essa estrada esburacada? Antes ela era fantasma (nada que uma boa reportagem de alguma afiliada não pudesse resolver)? Será que só no Nordeste (coincidência ou não, região onde o candidato da situação contabiliza índices para lá de bons) tem estradas nessas condições? Nesse circo mambembe se não há má-intenção, há jornalismo mal feito....

4.9.06

Ele de novo

Há tempos me pergunto como alguns colunistas sobrevivem com tanta arrogância. O Diogo Mainardi, da Veja, é um deles. Às voltas com bate-bocas mesquinhos, baixos, o rapaz se esforça muito para chamar a atenção. A última dele é de fazer rir: acusou o portal IG de contratar “petistas” para escrever comentários. É verdade que o portal contratou alguns jornalistas de peso, como Paulo Henrique Amorim, Franklin Martins e Mino Carta. É verdade também que a BrasilTelecom contratou o jornalista Caio Túlio Costa para ser o diretor-presidente da companhia. E também é verdade que o ex-ministro José Dirceu tem um blog no portal (mas afinal, não é qualquer pessoa que pode fazer um blog?). Mas daí supor que o portal tenha se tornado um “ninho” do petismo, é demais para a minha cabeça. A irresponsabilidade de Mainardi é tanta que acusa, sem provas, que o governo federal teria tomado de assalto o IG, durante a gestão Luiz Gushiken. E ainda confunde alhos com bugalhos quando fala que o PT acaba de elaborar um documento em que pede uma "mudança nas leis para assegurar mais equilíbrio na cobertura da mídia eletrônica". Deve estar se referindo à tentativa de diminuir a concentração dos meios de comunicação no Brasil, suponho...O que não seria um bom negócio para alguns colunistas de plantão. Mainardi quer aparecer e, para isso, utiliza técnicas condenáveis de intimidação, achaques. Ataca pessoas e reputações e, como sempre, fica impune. Como a maioria dos comunicadores que soltam denúncias ao vento e não têm a mínima capacidade de apresentar provas para seus devaneios.

Faz e desfaz

A mídia brasileira não faz nenhuma questão de esconder sua arrogância. Quando o PT afundou no mar de lama com as denúncias contra seus caciques, lá estava a mídia fazendo profecias à Nostradamus, apontando o fim prematuro do governo Lula. Não faltaram colunistas apocalípticos insinuando que o presidente não passaria pelo teste da reeleição. Agora, cristalizadas as pesquisas de opinião que apontam vitória no petista ainda no primeiro turno, os mesmos colunistas políticos apregoam que há “afoiteza do eleitor”- como classifica a Folha de S. Paulo - na escolha do candidato. Ora, é a opinião desses colunistas a desqualificar a opinião pública. Arrogância pura. E não há a mínima autocrítica para entender que a própria mídia, em determinados momentos, pode estar errada. Na verdade a mídia brasileira, em seus moldes monopolistas, parece ainda não estar preparada para o jogo democrático.

31.8.06

Questionamento

O internauta Mario Vaz questiona informações publicadas neste blog sobre a RBS e A Notícia. Segundo ele, o maior potencial econômico do Estado, inclusive para a mídia, é a região da Grande Florianópolis - com um milhão de habitantes e quatro jornais diários. Ele lembra que na região o Grupo RBS jornais concentra todas as suas fichas contra a concorrência (inclusive o AN Capital). O internauta sustenta que Joinville é uma cidade industrial, que não forma região metropolitana e onde a venda de jornais não chega à metade da Grande Florianóplis. “A concorrência do AN se dá no Estado inteiro e não em Joinville, onde são distribuídos cerca de 30 mil exemplares, e por isso motivou a compra do diário pela RBS”, conclui.
O blog agradece os esclarecimentos.

30.8.06

Barbas de molho

Está no Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br ), artigo assinado por Luciano Martins, em 29 de agosto, sob o título “Apetite da RBS expande-se para o norte”:

Para se ter uma idéia do grau quase obsessivo de planejamento a que chega a empresa, basta que se diga que, na aquisição de A Notícia, a RBS preparou um projeto de implantação com prazo de 11 anos. A redação de A Notícia tem 120 jornalistas e deverá ser reduzida em 30% a 40%, segundo um de seus editores. O prazo de transição mal dá tempo para procurar outro emprego: em dois a três meses, o jornal já deverá ter a cara e o estilo de gestão do grupo RBS, para aproveitar as oportunidades de anúncios que serão criadas no fim do ano pelos bons resultados das grandes indústrias da região, que costumam distribuir bônus por desempenho a seus funcionários.”

Se alguém ainda tinha dúvidas de que o passaralho vai chegar feroz...barbas de molho!

25.8.06

Os empregos

Na outra ponta, os empregos. Muitos jornalistas serão demitidos. A sucursal do jornal A Notícia em Florianópolis não tem mais razão de existir, já que por lá há o Diário Catarinense. São menos 40 empregos. Os correspondentes espalhados pelo estado também estão com os dias contados. Menos 15. A agência RBS vai entrar em ação, como faz para os outros jornais do grupo e, além disso, o Diário Catarinense tem sucursais estruturadas nas principais cidades catarinenses. Provavelmente a redação de Joinville também será cortada. Mais alguns outros tantos demitidos. Ontem foi um dia triste para os jornalistas da redação de A Notícia. Uma sensação de impotência em evitar o pior. O pessimismo estará implícito em mais uma edição do jornal e a indefinição ficará exposta até final de setembro, quando os gestores da RBS assumem definitivamente as rédeas do periódico joinvilense.

O motivo

O jornal A Notícia estava se preparando para lançar um jornal popular em Joinville - maior cidade de Santa Catarina e com imenso potencial comercial - em conjunto com a família Petrelli, do SBT. Os gestores da RBS souberam e partiram para o ataque. Reuniram-se com a direção do periódico joinvilense e colocaram as cartas na mesa. Admitiram que havia um plano para entrar em Joinville, via lançamento de um jornal para competir com o A Notícia. E que teriam bala na agulha para manter o jornal, sem lucro, por pelo menos 10 anos. Ou seja, para os joinvilenses era a venda ou morrer aos poucos, batendo de frente com o poderio do grupo, que derrubou outros grandes jornais, como O Estado, de Florianópolis, quando o Diário Catarinense foi inaugurado em Santa Catarina. Estava aberta a porteira para a aceitação da proposta de compra. Foram mais algumas reuniões, entre o diretor-presidente do AN, Moacir Thomazi, e o staff da RBS, incluindo o vice-presidente executivo do grupo, Pedro Parente, para que o martelo fosse batido. Não se fala em valores. Nem em estratégias. Mas a RBS estará pisando em ovos em Joinville. A cidade é conservadora. O formato do jornal é standard - ao contrário dos jornais do grupo gaúcho - e, certamente, seus mais de 32 mil leitores diários diretos terão dificuldades para digerir a venda. Haverá muito marketing para convencer os leitores de que a troca de mãos não vai retirar a identidade do jornal.