31.8.06

Questionamento

O internauta Mario Vaz questiona informações publicadas neste blog sobre a RBS e A Notícia. Segundo ele, o maior potencial econômico do Estado, inclusive para a mídia, é a região da Grande Florianópolis - com um milhão de habitantes e quatro jornais diários. Ele lembra que na região o Grupo RBS jornais concentra todas as suas fichas contra a concorrência (inclusive o AN Capital). O internauta sustenta que Joinville é uma cidade industrial, que não forma região metropolitana e onde a venda de jornais não chega à metade da Grande Florianóplis. “A concorrência do AN se dá no Estado inteiro e não em Joinville, onde são distribuídos cerca de 30 mil exemplares, e por isso motivou a compra do diário pela RBS”, conclui.
O blog agradece os esclarecimentos.

30.8.06

Barbas de molho

Está no Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br ), artigo assinado por Luciano Martins, em 29 de agosto, sob o título “Apetite da RBS expande-se para o norte”:

Para se ter uma idéia do grau quase obsessivo de planejamento a que chega a empresa, basta que se diga que, na aquisição de A Notícia, a RBS preparou um projeto de implantação com prazo de 11 anos. A redação de A Notícia tem 120 jornalistas e deverá ser reduzida em 30% a 40%, segundo um de seus editores. O prazo de transição mal dá tempo para procurar outro emprego: em dois a três meses, o jornal já deverá ter a cara e o estilo de gestão do grupo RBS, para aproveitar as oportunidades de anúncios que serão criadas no fim do ano pelos bons resultados das grandes indústrias da região, que costumam distribuir bônus por desempenho a seus funcionários.”

Se alguém ainda tinha dúvidas de que o passaralho vai chegar feroz...barbas de molho!

25.8.06

Os empregos

Na outra ponta, os empregos. Muitos jornalistas serão demitidos. A sucursal do jornal A Notícia em Florianópolis não tem mais razão de existir, já que por lá há o Diário Catarinense. São menos 40 empregos. Os correspondentes espalhados pelo estado também estão com os dias contados. Menos 15. A agência RBS vai entrar em ação, como faz para os outros jornais do grupo e, além disso, o Diário Catarinense tem sucursais estruturadas nas principais cidades catarinenses. Provavelmente a redação de Joinville também será cortada. Mais alguns outros tantos demitidos. Ontem foi um dia triste para os jornalistas da redação de A Notícia. Uma sensação de impotência em evitar o pior. O pessimismo estará implícito em mais uma edição do jornal e a indefinição ficará exposta até final de setembro, quando os gestores da RBS assumem definitivamente as rédeas do periódico joinvilense.

O motivo

O jornal A Notícia estava se preparando para lançar um jornal popular em Joinville - maior cidade de Santa Catarina e com imenso potencial comercial - em conjunto com a família Petrelli, do SBT. Os gestores da RBS souberam e partiram para o ataque. Reuniram-se com a direção do periódico joinvilense e colocaram as cartas na mesa. Admitiram que havia um plano para entrar em Joinville, via lançamento de um jornal para competir com o A Notícia. E que teriam bala na agulha para manter o jornal, sem lucro, por pelo menos 10 anos. Ou seja, para os joinvilenses era a venda ou morrer aos poucos, batendo de frente com o poderio do grupo, que derrubou outros grandes jornais, como O Estado, de Florianópolis, quando o Diário Catarinense foi inaugurado em Santa Catarina. Estava aberta a porteira para a aceitação da proposta de compra. Foram mais algumas reuniões, entre o diretor-presidente do AN, Moacir Thomazi, e o staff da RBS, incluindo o vice-presidente executivo do grupo, Pedro Parente, para que o martelo fosse batido. Não se fala em valores. Nem em estratégias. Mas a RBS estará pisando em ovos em Joinville. A cidade é conservadora. O formato do jornal é standard - ao contrário dos jornais do grupo gaúcho - e, certamente, seus mais de 32 mil leitores diários diretos terão dificuldades para digerir a venda. Haverá muito marketing para convencer os leitores de que a troca de mãos não vai retirar a identidade do jornal.

24.8.06

A verdade


O boato se transformou em verdade. A RBS anunciou hoje (24 de agosto) a compra do jornal A Notícia, de Joinville. O negócio é ruim para a mídia catarinense, já que consolida o monopólio da empresa gaúcha no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O jornal A Notícia, até então, era o único com abrangência estadual, nesses dois estados, a disputar em igualdade de condições com os jornais do grupo de Porto Alegre. O processo de compra esteve envolto em mistérios. Os boatos esquentavam mas, concretamente, nada era divulgado sobre a venda. Até o grand finale , com a nota emitida pela RBS. Leia Abaixo:

"É com satisfação que informamos que as empresas RBS Comunicações S.A. e A Notícia S.A Empresa Jornalística concluíram, no dia 23/08/2006, os termos que viabilizarão – após o término das auditorias usuais neste tipo de operação – a integração do jornal A Notícia, de Joinville/SC, à RBS.Acordaram ainda que até 20/09/2006 serão elaborados os contratos definitivos da operação. Uma vez concretizada a transação, a RBS assumirá em 21/09/2006 a gestão da empresa A Notícia S.A Empresa Jornalística, quando também anunciará seus planos de desenvolvimento para o jornal.A Notícia, fundado em 24/02/1923, editado na cidade de Joinville/SC, circula em 260 municípios catarinenses, com uma tiragem auditada pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC), em julho do corrente, de 32.111 exemplares/dia."

23.8.06

Eterno boato


Desde que cheguei a Joinville, em 1995, todos os anos ouvi o mesmo boato. A RBS (www.clicrbs.com.br) está comprando o jornal A Notícia (foto, www.an.com.br ). Este ano até que demorou, mas o assunto voltou à tona, através do blog do colunista político Paulo Alceu (www.pauloalceu.com.br ). Não é novidade para ninguém que a RBS quer passar por Joinville antes de se instalar no Paraná. E não é só isso. A cidade é a maior de Santa Catarina, concentra um PIB per capita alto e onde o jornal A Notícia lidera o mercado há anos. Então, é mais do que natural que o grupo gaúcho acene com propostas para compra do jornal jonvilense - aliás o único do estado que ainda mantém o formato standard. O boato esquenta ainda mais porque a RBS está lançando no dia 28 o seu jornal popular em Florianópolis. E poderia investir em produto parecido em Joinville. Para o bem da mídia catarinense, espero que a direção de A Notícia não sucumba ao canto do cisne. Se a RBS conseguir a compra, estará fechando o monopólio da mídia impressa no estado, já que o único jornal com tiragem estadual e que ainda concorre em igualdade de condições com os do grupo é o A Notícia.

22.8.06

Se a moda pega


Se a moda pegar, preparem-se para novas alternativas midiáticas no Brasil. Não é de hoje que a Europa está numa onda de jornais gratuitos. Tudo começou com o sucesso incontestável do sueco Metro International (foto). O jornal pode ser visto nas mãos de trabalhadores e estudantes, seja na Inglaterra ou França. O efeito fez com que jornais pagos passassem a considerar a adoção de um gratuito. Em julho, a News International, dona do Times e do Sun de Londres, confirmou o lançamento de seu vespertino gratuito. Na França, há rumores de que Le Monde e Le Figaro estejam planejando seus jornais gratuitos também. Até na Alemanha, onde publishers resistiram à tendência, o Verlagsgruppe Georg von Holtzbrinck, dona do diário financeiro Handelblatt, planeja começar um jornal de negócios gratuito. Quem sabe por aqui, mesmo com pouco metrô, a moda não pega nas estações de ônibus, por exemplo...

19.8.06

Patrulha tosca


Há um patrulhamento tosco de parte da mídia quando o assunto-tabu é nazismo ou assemelhados. A bola da vez é o escritor alemão Günther Grass (acima caricatura de Brandon Tisor, californiano), vencedor do prêmio Nobel de literatura. Ele confessou ter colaborado com a SS durante a 2ª Guerra Mundial. Ora, a mídia costuma julgar e condenar sem ao menos contextualizar os fatos e, pior, sem dar voz ao acusado. É assim no Brasil e no exterior. A pergunta é: o que me interessa o fato de Grass ter apoiado o nazismo? Em que isso diminui seu talento de escritor? Poderíamos listar muitos deslizes de qualquer um, famoso ou não, e publicar. Mas será que isso seria jornalismo? Grass lançou sua autobiografia, cujo título em inglês é Peeling Onions (ou "Descascando Cebolas", tradução livre), onde confessa que se inscreveu na unidade de elite do exército alemão em 1945, aos 17 anos.

17.8.06

Indignação



Hoje foi bem difícil editar a página de segurança no suplemento local do jornal A Notícia. Todos os dias somos bombardeados por imagens de sangue vindas do mundo inteiro, mas nem notamos que a violência é nossa vizinha. Na matéria editada de hoje, uma foto (do repórter fotográfico Cléber Gomes) emblemática de uma mãe debruçada sobre o corpo da filha morta, estendida em uma rua de um bairro periférico da cidade. Atropelada, aos 11 anos, por um sem carteira e bêbado. Ver aquela imagem provocou uma revolta diferente daquelas que eu sentia ao ver corpos sendo serrados nos IMLs, durante as reportagens policiais de início de carreira. Foi duro titular aquela matéria, rever a página na revisão, ver que fotos do acidente também estariam na primeira página do jornal. Mas no final de tudo, depois de tentar imaginar o sentimento daquela mãe sobre o que restou da filha, foi alentador perceber que, apesar dos processos produtivos, da tirania do tempo e seus deadlines, ainda resta um razoável grau de humanidade no meu fazer jornalístico.

Guerra de imagens


Volto à guerra. O caso do fotógrafo libanês Adnan Hajj, free-lancer da agência Reuters, que manipulou fotos (uma delas acima) no Photoshop soma-se a inúmeros outros casos de manipulação de informação durante as guerras. A foto mostra rolos de fumaça negra saindo de prédios da capital libanesa após ataque aéreo de Israel. A manipulação consistiu em intensificar a fumaça e a destruição dos locais afetados. O correspondente de guerra precisa lidar com inúmeras situações em um conflito. Uma delas é manter-se a razoável distância da propaganda dos lados envolvidos. Citei em post anterior o caso do repórter Marcos Losekam, da Globo, que ficou enfileirado aos tanques israelenses. Mas poderia citar casos de profissionais enfileirados aos soldados do Hezbollah. Muitas vezes a ética é deixada de lado e a principal vítima, como sempre, é a informação.

16.8.06

Comandante


Brilhante - e revelador - o artigo de Leonardo Boff, publicado no sábado (12 de agosto) na página três do jornal catarinense A Notícia (http://www.an.com.br). No texto, Boff relembra de encontros com Fidel Castro, em Cuba. E confessa a influência exercida sobre o comandante quando o assunto era teologia da libertação. Aliás, o próprio Fidel convidou Boff a passar uma temporada na Ilha para falar sobre a teologia e, mais, dar cursos ao alto escalão do governo cubano. Mas o que mais impressionou na revelação de Boff é de que Fidel teria confessado que só abraçou a causa do comunismo por causa da pressão norte-americana. E ainda: se tivesse conhecido antes, teria abraçado como causa a teologia da libertação. Pois foi depois dessa aproximação com Boff que Fidel percebeu ser importantíssimo abrir o diálogo com Igreja em Cuba. A teologia da libertação foi um movimento reformista na Igreja Católica da América Latina. Ancorados numa resolução episcopal, teólogos e agentes pastorais deslancharam um grande movimento. A Igreja deveria ser reconstruída a partir de suas bases locais, enraizadas na experiência popular. Insatisfeitos com a estrutura paroquial, estes agentes preconizaram a multiplicação de pequenas comunidades de fé, denominadas "Comunidades Eclesiais de Base" (CEBs). Compensando a carência de padres, as CEBs seriam animadas por ministros leigos, apoiados por agentes do clero. Atingiram pobres, meninos e meninas de rua, prostitutas, homossexuais, índios, enfim, os excluídos. E isso não agradou nem um pouco ao Vaticano. Mas conquistou o comandante.

Cobertura morna

A cobertura das eleições nos jornais de Santa Catarina começou morna. Mais ainda em suas versões on line. A própria rigidez da legislação eleitoral também está inibindo matérias mais ácidas sobre os candidatos e seus programas. Mas o jornalismo precisa sobreviver. Na edição de hoje das edições on line dos principais jornais catarinenses, o A Notícia, de Joinville, e o Diário Catarinense, de Florianópolis, há diferenças claras na abordagem do assunto. Enquanto o DC mantém um link direto com as matérias, comentários e colunas sobre eleições, o AN limita-se a uma matéria apenas. Não consegui acessar, inclusive, o especial AN Eleições pela web (que já está sendo publicado na versão impressa). E o leitor da web, como é que fica? O único link existente na capa do jornal, no portal, dá acesso apenas a uma matéria sobre eleições. E o restante do material? O DC mandou ver na cobertura on line, com um amplo material sobre o primeiro dia da propaganda eleitoral gratuita. Praticamente o mesmo material do jornal impresso, vitaminado com material da própria agência RBS (no estado e em Brasília). Bem, esperamos que o AN consiga equilibrar as coisas na web, já que no impresso o caderno especial do jornal joinvilense está bem interessante. Para conferir: http://www.an.com.br e http://www.clicrbs.com.br/jornais/dc

15.8.06

Na guerra


A crise no Oriente Médio tem mostrado alguns estilos de fazer jornalismo. O jornalista Marcos Losekam, da Globo, por exemplo, demorou para ir até o front. E quando foi, ficou de um lado. O mais seguro. Chegou a fazer matérias mostrando o poderio bélico de Israel, bem instalado em Haifa. Nem o teatro que fez quando um foguete do Hezbollah caiu perto da equipe foi suficiente para restaurar a credibilidade perdida. Enquanto isso, do outro lado, no Líbano, refugiados brasileiros tentavam escapar e civis eram bombardeados. Esse tipo de atitude, traz um debate que acontece freqüentemente nas redações. O correspodente de guerra, afinal, deve ir ao front ou não? O bom jornalismo, ao me ver, aponta que sim. Casos como o de José Hamilton Ribeiro na Guerra do Vietnã, ilustram bem a vontade de se fazer jornalismo mesmo em condições adversas. Talvez um exemplo que possa ser dado nessa guerra no Oriente Médio seja o do jornalista Lourival Sant´ana (foto), do Estadão. Suas matérias mostraram equilíbrio. Embora também tenha demorado a chegar na guerra, quando chegou, procurou ver os muitos lados da questão. Minha opinião: se vai à guerra, que vá completamente. Do outro lado, pessoas estão esperando uma informação verdadeira, ética, que mostre o que realmente está acontecendo. Os olhos do telespectador são os olhos do repórter.

Eleições


O primeiro debate na TV confirmou o que todos esperavam: o presidente Lula não quer nem saber de discussões. Era uma tendência. Fernando Henrique, quando tentava a reeleição, utilizou a mesma estratégia. E deu certo. Foi eleito no primeiro turno. Na verdade, a coordenação de campanha do petista sabe que quanto menos bater boca com seus adversários, mais condições terá de ganhar ainda no primeiro turno. Além disso, há uma franca queda de Alckmin e uma subida lenta de Heloisa Helena, que pode consolidar ainda mais a tendência de eleição em primeiro turno. Aliás, os petistas acertaram em cheio quando deixaram de bater na candidata do P-Sol, o grande azarão desta eleição e que está abocanhando o voto de protesto.

Violência


O repórter da Globo Guilherme Portanova voltou são e salvo daquela que, certamente, é a maior história de sua vida. Poderia não ter voltado. O episódio do seqüestro do jornalista traz à tona algumas discussões que precisam ser feitas. A primeira, o mito de que no Brasil o jornalista não sofre violência. Nos grotões, ou mesmo nas grandes cidades, seguidamente os repórteres são ameaçados por matéria que denuncia algo ou alguém. A segunda, a tremenda omissão dos meios de comunicação sobre isso. No caso da Globo, justiça seja feita, a empresa agiu com cuidado para preservar a vida do profissional. Mas em muitos outros casos as empresas simplesmente lavam as mãos e largam o jornalista à sua própria sorte. E, terceira, a impunidade. Lembremos de casos como o repórter que sofreu um atentado em Itapema/SC, há alguns anos. Não custa perguntar: alguém foi preso? Que eu saiba não.